CICLISMO: TEORIA OU PRÁTICA?
O sucesso de um ciclista ou de seu programa de treinamento na maioria das vezes esta associado ao embasamento teórico ou ao conhecimento prático. No entanto, há um descompasso nestes dois extremos porque não se reconhece e não se explicita de maneira desejável um modo de conceber esta relação igual para ambos os lados.
Em qualquer nível de treinamento há de se ter a compreensão desse “novo modo de relação”. Na pratica isso parece ainda muito distante, pelo menos no Brasil, fazendo com que os conceitos e as propostas permaneçam isoladas e com muitos ciclistas e/ou profissionais sem saber equalizar teoria e prática. A compreensão inadequada deste processo tem como uma das consequências o famoso “pedir receitas”. A cada novidade, a cada resultado de um atleta, a cada “novo conceito” que se divulga, os ciclistas se perguntam “como fazer”, ao invés de, eles próprios, descobrirem os caminhos de apropriação das teorias para então se orientar nas práticas.
Vivemos no pais do futebol, ao qual existem mais 200 000 000 de técnicos e experientes nesta modalidade e, infelizmente, com o crescimento do ciclismo estamos pedalando neste sentido. Esta ficando muito fácil “saber muito sobre ciclismo”. Alguns conceitos tidos como “corretos” para o ciclismo estão relacionados à especulação, à ideia em si e anteriores à experimentação. Já outros são totalmente desprovidos de embasamento teórico e creditados somente ao “saber fazer”. O conhecimento, no entanto, não pode se limitar a um dos lados e aqueles que reconhecem esta situação conseguem extrair o melhor de cada lado.
Quando se define o significado de prática, que, por sua vez, se tornou um opositor à teoria, resume-se à experiência, à execução, ou à aplicação e se distancia com a teoria. Não acreditamos em tal caminho, pois ele não permite o aprendizado com aqueles que pedalam, que “sentem” as dores e submetem o corpo ao esforço e, do outro lado, não associa o conhecimento daqueles que estudam estes comportamentos. Muitas vezes aprendemos que a prática é uma etapa posterior à teoria, mas não é desta maneira. Somos capazes de reconhecer no ciclismo inúmeros exemplos de atletas que construíram grandes resultados baseados somente na prática. Há sim muitas limitações, mas não podemos afirmar que não tiveram sucesso.
Se o ciclista ou profissional não aprender de ambos os lados estará sujeito ao processo de aprendizado como um produto embalado e com a função única de reprodução, pensem nisso. Observa-se neste modelo que não há espaço para o questionamento ou a inovação. Portanto, cuidado com as receitas prontas dos ciclistas experientes ou somente as teorias. Precisamos de um indício de caminhos a serem seguidos, hipóteses a serem testadas, com a possibilidade de novos programas de treinamento e novas configurações teóricas. Vamos progredir com o ciclismo brasileiro construindo caminhos para encontrarmos respostas, e não somente trabalharmos com as respostas prontas e já construídas.
Boas pedaladas.